O primeiro passo
Para aprimorar a segurança do paciente, o HIAE iniciou o projeto de rastreabilidade intra-hospitalar. Tinha-se, portanto, o objetivo de monitorar o recebimento, distribuição, dispensação e administração dos medicamentos, mantendose o controle sobre lote e validade dos medicamentos nestes processos.
Até aquele momento não existia viabilidade de se realizar a rastreabilidade, pois os medicamentos entregues pelos fabricantes não possuíam os requisitos mínimos para tal tipo de controle. A totalidade dos fornecedores não disponibilizava medicamentos em embalagens identificadas adequadamente.
Quando da existência do código de barras, este informava somente de qual produto se tratava (código EAN 13 – Fig 1) e, normalmente, em sua embalagem secundária.
Em se tratando de dispensação hospitalar, é imperativo que a identificação completa seja realizada na embalagem primária.
Para se contornar o problema e atender esta demanda, a alternativa adotada estava na re-etiquetagem (re-identificação) dos medicamentos em todos os tipos de apresentação e formas farmacêuticas com a impressão de código de barras contendo os dados de produto e lote, ou produto, lote e validade, além das informações completas do produto, lote e validade no formato humano-legível . Para ampolas e frascos-ampola a solução era trabalhosa (Fig 2), mas a situação tornava-se ainda mais crítica quando tratamos processo, o HIAE investiu em uma máquina table-top para unitarização, promovendo a remoção de cada unidade de sua embalagem original.
No mercado brasileiro, a venda de medicamentos em bulk é praticamente inexistente, o que torna esta atividade mais custosa e geradora de muitos resíduos, como cartuchos, blísteres e bulas. Para esta prática, posteriormente, com a publicação RDC 67/2007 da ANVISA , no processo de reembalagem nas maquinas table-top, a validade do medicamento deve ser reduzida a 25% do tempo restante da data original do fornecedor. Esta situação se mantém até a atualidade. Em 2005, para o atendimento de 460 leitos, pronto-atendimento e outras duas unidades de atendimento ambulatorial (Paraisópolis e Alphaville), o HIAE reembalava cerca de 80 mil sólidos orais e reetiquetava cerca de 250 mil ampolas ou frascos-ampola por mês.
A solução adotada oferece risco
Em síntese, temos aí outro ponto de risco. A atividade de reetiquetagem é um passo crítico, de elevado custo de mãode- obra e em que envolvemos a possibilidade de inserção de informações incompletas, incorretas ou trocadas. Para se evitar tais enganos, a adoção de políticas de prevenção de erros e controle de qualidade pós-etiquetagem é recomendada.
Adicionalmente, ainda existe a possibilidade de erro no recebimento de medicamentos na entrada do estoque no hospital.
Neste momento, havendo controle de lote na distribuição interna dos produtos, as informações de lote e validade devem ser digitadas no sistema. Com isto, incorre-se no risco de erro de cópia de informações comprometendo a capacidade de rastreabilidade dos dados durante o período de utilização do medicamento. Não sendo bastante os problemas já listados, deve-se ter atenção à qualidade de impressão das etiquetas, pois códigos mal impressos não podem ser lidos e toda a cadeia fica comprometida.
Portanto, é imprescindível um programa eficaz de manutenção preventiva nas impressoras , aquisição de etiquetas e filme de impressão adequados, de modo que não borrem no manuseio ou no uso de líquidos utilizados nos processos assepsia.
A solução ideal
Dada a condição de insegurança já discutida, e participando do grupo de trabalho Saúde da GS1 Brasil , indentificamos indústrias parceiras que estavam a adotar o padrão de codificação GS1 RSS composto (atual DataBar – Fig 4) em cada unidade de medicamento na sua linha de produção.
Neste formato de maior capacidade, pode-se inserir dados variáveis como lote e validade no seu conteúdo de informações. Mais tarde, em 2008, novos parceiros aderiram à proposta e seguiram as novas diretrizes internacionais que demandavam o uso do código GS1 DataMatrix (Figs 5 e 6).
Com o código bidimensional de conteúdo variável deixamos de ter a necessidade de re-etiquetagem de todos os produtos e passamos a ter o processo de recebimento com maior segurança.
No momento da leitura do código, o sistema importa automaticamente os dados de lote e validade e elimina a possibilidade de erro no registro destes dados no sistema de gestão de estoques da empresa. Zellmer , tendo em vista o levantamento realizado do atual status da farmácia hospitalar pela American Society of Health-System Pharmacists (ASHP) , vê como meio de segurança e redução de custos, a necessidade da adequação da indústria para o fornecimento de medicamentos pré-embalados em doses individualizadas já com código de barras. Isto vem em consonância com os estudos do grupo da GS1 Brasil.
Um desafio bastante grande para a indústria farmacêutica nacional ainda permanece quanto à aplicação do código nos blísteres de sólidos orais . Pretende-se que, uma vez fracionado (através de blísteres picotados), todas as unidades possuam a identificação completa requerida para rastreabilidade, sem a necessidade re-embalagem nos hospitais que realizam o processo de dispensação por Dose Unitária.
Após a adesão dos diversos parceiros, em dezembro de 2010, após diversas expansões de atendimento, para cerca de 600 leitos, prontoatendimento e outras 4 unidades ambulatoriais (Paraisópolis, Alphaville, Ibirapuera e Perdizes- Higienópolis), o HIAE atingiu os seguintes indicadores: Reembalagem de cerca de 180 mil sólidos orais e reetiquetagem de cerca de 250 mil ampolas ou frascos-ampola por mês. Outras 120 mil unidades de ampolas e frascos-ampola deixaram de ser etiquetadas por já portarem o código GS1 DataMatrix.