A fabricante de produtos para pets Globalflex enfrentava a concorrência de itens chineses e indianos sem grande preocupação. No mercado nacional, ficou fora da briga por preços baixos apostando no desenvolvimento próprio e no "abrasileiramento" de tendências inovadoras exibidas em feiras no exterior. Mas o cenário mudou quando passou a exportar, há cerca de três anos. "Percebemos a necessidade de inovar para ganhar diferenciação no mercado externo", diz o empresário Antonio Rodriguez.
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A mesma ideia de investir em design para ganhar competitividade internacional e inovação levou à criação do programa Design Export, pela Apex-Brasil. Foi por meio do programa que Rodriguez viabilizou a criação de uma casinha para transporte de pets com dupla função, sem similar no mundo, que chega ao mercado até 2015. A novidade deve ajudar a triplicar a participação das exportações nas vendas, hoje em torno de 3%. A Globalflex estima investimento total de R$ 450 mil no novo produto. "Era para ser só um design, mas acabou sendo uma inovação", diz Rodriguez, que agora busca linhas de financiamento para desenvolvimento industrial.
O exemplo espelha o sucesso do programa, nascido no ano passado e coordenado pelo Centro Brasil Design (CBD), de Curitiba (PR) com foco em setores considerados mais críticos - moveleiro, têxtil e confecção, pet, calçados, máquinas e equipamentos, mel, produtos médicos e odontológicos e iluminação. Os resultados fizeram o Design Export incluir neste ano novos segmentos e ganhar versões específicas para o mercado nordestino e para grandes empresas.
Atualmente, o programa abrange também máquinas para panificação, plásticos e produtos para refrigeração. Entidades setoriais parceiras da Apex-Brasil indicaram empresas qualificadas para receber apoio à contratação de serviços de design, selecionados entre os 140 escritórios pré-qualificados. Cada empresa recebe R$ 18 mil para bancar o projeto e orientação em todas as etapas do processo.
"O número de produtos novos surpreendeu", diz o gerente de inovação e design da Apex-Brasil, Marco Lobo, que contabiliza investimento total de R$ 6 milhões e retorno de R$ 5 para cada R$ 1 desembolsado. Do total, 42% das empresas são de micro e pequeno porte. "O Design Brasil é um dos poucos programas que nasceu voltado às pequenas e agora ganha versão para as grandes."
Os resultados são animadores. Das cem empresas atendidas em nove Estados, 94 já passaram pelo processo de diagnóstico, com 42 projetos de inovação em curso. "A metodologia tem caráter didático e foco em levar o entendimento do que é o design para dentro das empresas", acrescenta Leticia Castro, diretora executiva do CBD, destacando a disposição até de setores mais conservadores para inovação, como máquinas e equipamentos, iluminação e médico-odontológico.
A Ibramed, de Campinas (SP), representa este último. Fabrica equipamentos para as áreas de reabilitação física, estética e medicina estética, exporta há cerca de oito anos para 40 países e agora investe em desenvolvimento de uma máquina específica para o mercado externo, que exige associação de tecnologias diferentes em um mesmo gabinete. "Aqui a mobilidade é importante, atende-se mais a domicílio", detalha a fisioterapeuta Aline Stringhetta. A nova linha desenvolvida pela Design Inverso é mais robusta, tem display maior e sistema de retirada de módulos para manutenção pela parte traseira, mantendo as demais funções em operação.
Inovação também é o foco da mineira Kanzo, confecção de Iturama que inventou em 2012 o sistema Moovexx de construção de cós com elástico sem expor o enrugamento do tecido que já deu origem a duas patentes. Além de selecionada pelo Senai em edital de inovação, a Kanzo entrou no Design Export antes mesmo de chegar ao mercado externo, interessada na criação de um expositor para ponto de venda que retrate o conceito de forma interativa. A novidade foi assinada pela Chellis & Raiayshi e chega ao mercado no início de 2015. "Vamos começar a exportar em um ano e meio", diz a fundadora Renata Iwamizu.
Mais um projeto diferenciado foi criado não para uma empresa, mas para uma associação - neste caso, a Associação Brasileira das Empresas Exportadoras de Mel (Abemel). Além de uma logomarca, foram desenvolvidas embalagens diferenciadas para exportar o produto envasado e não só a granel. Segundo Manuel Müller, do escritório Müller Camacho, sacadas como maximização da capacidade do equipamento do fabricante de embalagem e a possibilidade de ganhar escala com compras coletivas permitem reduzir em até 27% o valor dos potes, inspirados no desenho octogonal das colmeias. "Mas ainda há timidez por parte de pequenas e médias empresas em assumir este tipo de projeto", diz. "É como se faltasse autoconfiança, como se fosse muita areia para o caminhãozinho dele."
Outro fruto dos esforços voltados à exportação foi o Diagnóstico do Design Brasileiro, lançado no mês passado pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O estudo traçou um panorama geral da disciplina no país, mapeando agentes, instituições e sua inserção no segmento industrial e de serviços. Segundo a coordenadora-geral Beatriz Martins Carneiro, em 2013 haviam 686 escritórios formais de design no Brasil, contemplando 4,2 mil postos de trabalho.
Fonte: Valor